Ela era sempre silenciosa e contida, sempre pensava antes de falar, não queria chatear ninguem e tudo que tinha vontade de falar, dizia para si mesma e isso bastava. Todos os desabafos, todos os insultos e todas as verdades saiam da sua cabeça e não passava da sua boca.
Até que um dia quando acordou e se sentiu tão cheia que nem café conseguiu tomar, e sentiu uma necessidade estranha, muito incomum que começou pequena mas parecia crescer, era como ânsia de vomito talvez , algo estava preso na sua garganta e precisava sair, e num descuido ela gritou, um grito alto, muito alto, assustador, e aquele som viajou toda a sua cidade e naquele momento tudo parou: os movimentos ficaram suspensos, os segundos pararam de contar o tempo e até luz interrompeu sua viagem. E ela ali no meio daquela brecha no tempo olhando tudo de uma forma que nunca tinha visto antes, os contornos estavam bem definidos e tudo pareceu bem mais claro: algumas coisas eram mais simples do que ela imaginava, alguns insultos nem precisam sair de sua cabeça mas se saíssem tinha que passar boca e que muita gente nem ficaria chateada com a verdade, uns até ficariam gratos(outros, é claro, não gostariam mas pelo menos saberiam que ela existia) ela percebeu que algumas coisas eram realmente complicadas e que era necessário muito esforço para supera-las, enfim que a vida tava ali e só acontecia uma vez e com o tempo parado percebeu que tudo passava rápido e que as mudanças que tinham que ser feitas deveriam começar agora!
Marcela;